Grande coisa é viver em obediência, sujeito a um superior, e não ter vontade própria.
Muito mais seguro é obedecer que mandar.
Muitos estão em obediência mais por necessidade que por amor, os quais têm fadiga e facilmente murmuram e nunca terão liberdade de ânimo enquanto se não submeterem por Deus de todo o coração. Por mais que andes duma parte para a outra, não acharás descanso senão na humilde sujeição a um superior. A imaginação de que mudando de lugar se melhora, a muitos tem enganado.
Verdade é que a cada um agrada seu próprio parecer e de bom grado se inclina para os que pensam como ele.
Mas, se Deus está entre nós, necessário é que deixemos algumas vezes nosso parecer, pelo bem da paz.
Quem é tão sábio que tudo saiba?
Não te confies, pois, demasiadamente em teu próprio parecer; ouve antes de boa mente o sentir dos outros.
Se o teu parecer for bom e o deixares por amor de Deus para seguir o alheio, terás nisto mais merecimento.
Muitas vezes ouvi dizer que é mais seguro ouvir e tomar conselho que dá-lo.
Bem pode também acontecer que seja bom o parecer dum, mas não querer ceder aos outros quando a razão ou a ocasião o pede, é sinal de soberba ou de teimosia.
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Reflexão
Se o Filho de Deus se fez obediente até a morte e morte de Cruz, que homem há que recuse obedecer? No mundo não há ordem nem vida senão pela obediência: ela é o laço dos homens entre si e seu autor, o fundamento da paz, e o princípio da harmonia universal. A família, a cidade, a Igreja, não subsistem senão seja obediência; a mais alta perfeição das criaturas não é mais que uma perfeita obediência: só ela nos preserva do erro e do pecado.
Quando obedecemos a um homem revestido de autoridade, obedecemos a Deus; Ele é o único monarca, e todo o poder legítimo é uma emanação de sua onipotência eterna e infinita. "Todo o poder vem de Deus", diz o Apóstolo, e está sujeito a uma regra divina, tanto na ordem temporal como na espiritual; de sorte que, obedecendo ao pontífice, ao príncipe, ao pai, a quem é realmente "ministro de Deus para o bem", só a Deus obedecemos.
Feliz aquele que compreende esta celeste doutrina: livre da escravidão do erro e das paixões, dócil à voz de Deus e da consciência, goza "da verdadeira liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8, 21).
Deus e Senhor meu, contra cujos conselhos nada pode a humana malícia, dai-me aquele espírito de obediência e sujeição que tanto distingue vossos restos, pelo qual me assemelharei a vosso Filho que por minha salvação se fez obediente até à morte, e assim terei parte nos merecimentos do seu sangue preciosíssimo.
(Extraído do livro "Imitação de Cristo", livro 1, capítulo IX, Da obediência e submissão. Reflexão de padre J. I. Roquette. Págs 44 a 46. Ed. Ave Maria)
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